Como seria se existisse um lugar, isolado do nosso mundo, habitado exclusivamente por mulheres, que não precisam e não conhecem a presença de homens para nada, inclusive para reprodução? Essa é a premissa de Terra das Mulheres, publicado em 1915 pela Charlotte Perkins Gilman, a celebrada autora de O Papel de Parede Amarelo.
O livro, entretanto, não é contado da perspectiva dessas mulheres, mas sim de um homem que, junto com dois colegas exploradores, descobre a lenda de que existiria um local assim e acaba conseguindo, de fato, encontrá-lo.
Nos vemos, assim, diante de três personagens masculinos que chegam a esta terra cheio de noções pré-concebidas, totalmente contaminadas pelo machismo e pelos costumes da época (é preciso lembrar o momento histórico em que o livro foi escrito e publicado).
Embora seja uma constante fonte de irritação, acaba sendo muito interessante ter essa história contada pelo ponto de vista deles, pois vamos poder observar como o machismo tóxico dos personagens, cada um a seu modo, vai sendo confrontado ponto a ponto pela realidade que eles encontram.
As mulheres que eles encontram não são frágeis, submissas ou fúteis, como eles esperam. São mulheres fortes, inteligentes, determinadas e que sabem muito bem o que querem.
Não é à toa, afinal, que este livro foi uma das grandes inspirações para a construção da história de origem da Mulher-Maravilha!
O problema, porém, é que o livro acaba rompendo apenas uma parte das barreiras machistas de sua época e nos apresenta mulheres, até o aparecimento dos três personagens, completamente assexuadas (como se não fosse possível imaginar uma sociedade composta de mulheres lésbicas) e sem muita diversidade entre si.
Essas mulheres são incríveis e compõe uma sociedade muito interessante, que toca em pontos como o veganismo, o feminismo, a educação e a escolha entre ter ou não filhos de um modo que nós não esperamos ver em um livro do início do século XX. Mas não podemos dizer que a abordagem de Gilman foi perfeita.
Ainda há muito a ser repensado e melhorado a partir dessa obra, mas é exatamente por isso que considero importantíssimo lê-la e relê-la; ela nos provoca. Mesmo nas suas falhas, ela nos leva a reflexões e discussões extremamente pertinentes, fazendo deste um daqueles livros essenciais na biblioteca de qualquer um.