No mesmo dia que beija Axel, seu melhor amigo, Leigh chega em casa e descobre que sua mãe cometeu suicídio. Ela acredita, entretanto, que sua mãe virou um pássaro e, em meio a sonhos realistas e a fatos inexplicáveis, seu processo de luto e de tentar compreender sua mãe vai sendo conduzido de forma bela, intensa e poética.
Leigh é uma personagem com uma forte veia artística e que vê o mundo de modo sinestésico. Tudo que ela sente tem uma cor, um cheiro, um sabor. Isso faz com que Pan nos proporcione imagens emocionantes, que mexem com todos os nossos sentidos.
“O sabor do oolong é colorido pelo cheiro da fumaça, porções salgadas que se desprendem do altar em minha direção”.
No início a nossa primeira reação, claro, é desconfiar; o pássaro não é real. Ela está só projetando. É a forma que ela encontrou de lidar com a dor. Porém, quanto mais nos aprofundamos na leitura, mais acreditamos no pássaro e na jornada por onde ele parece querer conduzir Leigh.
Pois, além do luto, há outro tema muito importante nesse livro: a (re) conexão com suas origens. Leigh é filha de uma Taiwanesa com um americano e, criada na cultura americana e tendo puxado a maior parte de seus traços físicos do seu pai, não se sente conectada ao mundo de onde sua mãe veio. É a partir de tudo que acontece aqui, inclusive, que ela conhecera seus avós maternos pela primeira vez.
E é em Taiwan que ela começa a ter a chance de conhecer melhor esse seu lado. Entender sua mãe e sua própria história passa, necessariamente, por entender aonde ela, meio americana e meio asiática se encaixa, afinal.
Para mim, esse livro é um dos maiores exemplos do quão profundo, reflexivo e importante a literatura jovem adulta contemporânea tem se mostrado ser. Pan nos apresenta questões muito sérias e profundas por meio das complicadas relações familiares dos personagens e através da dificuldade deles lidarem com o luto, com o tema do suicídio e com as diferenças entre eles.
E o mais incrível acaba sendo, de fato, como ela consegue construir isso de maneira tão bonita e tocante. As Extraordinárias Cores do Amanhã é um livro emocionante, e que sem dúvida merece ser lido não apenas pelos jovens, mas por todos nós.
Do que tenho lido 